“DEPOIS DE UM VERDADEIRO TSUNAMI NA NOSSA ECONOMIA E NO NOSSO TURISMO, É O TEMPO PARA A RETOMA”
O Turismo está a querer retomar gradualmente mas a situação no país, e a nível mundial, permanece difícil para este setor.
O Turismo está a querer retomar gradualmente, mas a situação no país, e a nível mundial, permanece difícil para este setor. Manuel Proença, presidente do Grupo Hoti Hoteis, responde às questões da Ambitur.
Se as acessibilidades eram, há dois meses, apontadas como a pedra de toque da retoma da atividade turística, hoje, com ligações a começar a ser repostas, a questão coloca-se no consumidor?
As acessibilidades são fundamentais para justificar a reabertura do setor turístico nacional, e em consequência, foi isso que fizemos com as reaberturas dos nossos hotéis. São um fator decisivo. Com as fronteiras abertas e a retoma das ligações aéreas, vamos também assistir a uma retoma gradual da procura hoteleira. No entanto, a dimensão da procura turística dependerá da intensidade do número de ligações aéreas e do “load factor” dos voos com destino aos aeroportos nacionais. E também de decisões político sanitárias que nos podem surpreender.
A retoma da confiança dos consumidores – continua a ser fundamental – dependerá do controlo da propagação do vírus e da descoberta de uma vacina, ou um antiviral, que mitigue os riscos causados pelos contágios. Enquanto tal não suceder, teremos de gerir o negócio “à vista” e com grande flexibilidade, reservas em cima da hora, e reações de mercado imprevisíveis.
Considera que se vive um tempo de imprevisibilidade?
Completamente. Veja-se a recente decisão britânica, relativamente a viagens com destino a Portugal Continental, uma decisão inesperada e que em nada se justifica. Uma desilusão e um prejuízo colossal, principalmente para o Algarve. Esperamos bem que esta decisão seja rapidamente alterada.
Agora é decidir o dia a dia, mês a mês, os tempos serão muito conturbados e imprevisíveis. Estamos perante o maior desafio profissional das nossas vidas. A prudência é a palavra de ordem na gestão das empresas e também na definição dos investimentos.
A imprevisibilidade perante o comportamento do consumidor passou a dominar o setor?
As viagens são hoje serviços de primeira necessidade para a população da Europa e do Mundo. O turismo continuará sempre a ter um grande futuro. É uma conquista da civilização – viajar e conhecer o mundo – e isso é irreversível. É uma questão de tempo. O mercado recuperará num primeiro momento de forma lenta, e gradualmente alcançará os níveis de procura pré-crise, após a estabilização das condições sanitárias. A abertura das fronteiras no passado dia 1 do corrente mês, já deu para ver que o mercado está a reagir favoravelmente e a tendência do consumidor é para decidir em cima da hora as suas preferências bem conhecidas.
Porém, temos que estar muito atentos sobre o que vai suceder nos próximos tempos e ser ágeis, para nos adaptarmos às novas dinâmicas do mercado. É o que vamos fazer no nosso Grupo.
O que é possível, em que vetores se pode atuar, para mitigar esta questão?
Compreender os clientes e as suas motivações, desenhar e adaptar a nossa oferta para dar resposta às suas necessidades e expectativas, são vetores críticos no atual contexto.
Poderia dar inúmeros exemplos implementados pela Hoti Hoteis, mas destaco a eliminação das tarifas não reembolsáveis na comercialização da nossa oferta, porque a imprevisibilidade leva a que os clientes valorizem a flexibilidade das reservas. Ao nível do serviço implementamos rigorosos processos de higienização para garantir a segurança e a confiança dos nossos colaboradores e clientes dentro das unidades hoteleiras. Todas as unidades hoteleiras geridas pelo Grupo, estão acreditadas com o selo “Clean & Safe”.
O que os destinos nacionais podem fazer neste contexto?
Reforçar as verbas para a promoção nos mercados e segmentos de procura considerados estratégicos e implementar uma política de incentivo para a dinamização das rotas aéreas são determinantes no curto prazo.
Em resultado da recente decisão das autoridades britânicas, a Madeira e os Açores, entram na lista de destinos para os quais são permitidas viagens não-essenciais, não podem perder a oportunidade para se imporem como destinos importantes e conquistar novas clientelas naquele mercado. Esperamos bem, que os restantes países do Reino Unido – País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte – tomem agora decisões mais ajuizadas.
O turismo interno já está a reagir gradualmente e a favorecer os territórios de baixa densidade. A oferta está a promover intensamente nos órgãos de comunicação social, pacotes de férias muito atrativos.
O esforço para recuperar os nossos destinos nacionais é um dever coletivo, que precisa da cooperação de vários atores: – Os municípios que implementaram as taxas turísticas devem suspendê-las até o mercado recuperar, a entidade gestora dos aeroportos deveria ajustar as taxas aeroportuárias para promover os nossos destinos e implementar um modelo de incentivo à dinamização das rotas, alinhadas com o novo ciclo de procura. O Turismo de Portugal e as Agências Regionais, deveriam investir e reforçar as verbas para a promoção e atribuição de incentivos à dinamização da procura.
Por parte do Estado, é fundamental continuar a apoiar o setor com medidas que favoreçam a sua viabilidade e a capitalização das empresas do setor do turismo. Sem elas não há recuperação possível.
E elas – as empresas – apoiarem os seus clientes, flexibilizando critérios de crédito e de reservas para que os nossos destinos não percam as suas competitividades.
Depois de um verdadeiro tsunami na nossa economia e no nosso turismo, é o tempo para a retoma, porque o turismo terá sempre um grande futuro.